O Haiti, até então relativamente pouco afetado pela pandemia, vem registrando um aumento nos casos de covid-19 após a chegada de cidadãos de férias, embora o país não tenha previsto iniciar uma campanha de vacinação em vários meses.

“O aumento que notamos afeta principalmente a população que tem condições de viajar, a população mais rica, em particular os jovens que vêm com mais frequência da Flórida e que contaminam seus pais e avós aqui”, explicou à AFP William Pape, especialista haitiano em doenças infecciosas.

Apesar da crise de saúde, os tradicionais grandes concertos de Ano Novo acontecem todas as noites na capital haitiana, reunindo centenas de pessoas que geralmente não respeitam as medidas preventivas.

O baixo impacto da epidemia no Haiti é a boa notícia do ano para um país atolado em uma profunda crise sócio-política e que enfrenta um aumento nos sequestros para resgate perpetrados por gangues armadas.

No entanto, devido ao número limitado de testes realizados, as estatísticas oficiais sobre a pandemia são provavelmente muito inferiores à realidade. De acordo com esses dados, o Haiti registrou apenas 9.999 infecções e 236 mortes por covid-19 desde março.

Embora o país faça parte da iniciativa Covax, desenvolvida pela OMS para permitir que 92 países de baixa e média renda tenham acesso às vacinas, levará vários meses até que uma campanha de vacinação comece no Haiti. Segundo o governo, o programa Covax imunizará 20% da população haitiana, ou seja, 2,5 milhões de pessoas.

“O governo ainda não tomou uma decisão sobre o tipo de vacina que vai aprovar para que possamos comprá-las. Levará mais algumas semanas, senão alguns meses, mas terá um impacto”, afirmou à AFP Bruno Maes, representante da Unicef no Haiti.

“Não existe só a vacina, mas também as seringas e todo o equipamento necessário, e também vamos precisar de tropas para fazer um plano logístico: o país é montanhoso, a população está espalhada por todos os departamentos”, explicou.

Como as doses da vacina Pfizer/BioNTech requerem armazenamento a -70° C, a comunidade científica haitiana aguarda opções adaptadas às limitações de um país pobre com clima tropical.

“A melhor coisa para nós seria uma vacina que pudesse ser armazenada em temperatura ambiente como a vacina contra o cólera e, idealmente, uma vacina que só precisa de uma dose”, disse Pape.